sábado, 27 de dezembro de 2008

Fim de ano velho...

27 de dezembro de Itamambuca com chuva 2008


Hoje acordei magrela, pálida, branca, amarela
Hoje acordei quieta, fria em frágil melancolia
Hoje sou eu de ontem
Eu da infância
Eu de mim

Hoje eu sou eu
Sem ilusões
Sem sonhos
Sem paixões

Hoje aceito destino
Obedeço Deus
Calo revoltas

Hoje sou aquela menina
Que ainda não sabia
Que lutar traz vitórias
Que conquistas trazem glórias
E que glórias são vazias

Hoje só sei que bom mesmo,
É cismar olhando o mar...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

2 e 2

Ferreira Gullart

como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena

como é azul o oceano
e tua pele morena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
sei que dois e dois
são quatro
sei que a vida
vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Andrei Tarkovski 1966

“A arte seria desnecessária se o mundo fosse perfeito
O homem não procuraria a harmonia
Apenas viveria nela.”

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

PAIXÃO

De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
O mundo, cheio de departamentos,
não é a bola bonita
caminhando solta no espaço.
Eu fico feia, olhando espelhos com provocação, batendo a escova com força nos cabelos, sujeita à crença em presságios.
(...)
(ADÉLIA PRADO, 1991. p.199)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O Niilismo por F.Z.F.

Eu nunca fui. Existia materialmente. Fazia o que definiram que eu deveria fazer. Seguia o curso do rio comum, águas límpidas, águas poluídas. E eu nas suas ondas a navegar, sem saber para onde, sem saber quando. Isolado no meio da multidão que também caminhava às cegas. Um enorme rebanho que nada sabe. Um enorme rebanho que tem medo de saber. (FERNANDO ZURITA FERNANDES, O pequeno dragão dourado, 2001, p.44)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

No dia em que despertei

dri dezotti

No dia em que despertei
Senti dor

Meus olhos doeram com a luz
Minhas pernas doíam por falta de movimento
A base de minhas asas também doíam
por ter ficado tanto tempo sem voar.

No dia em que despertei
Confundi dor com saudade
Luz com cegueira
E senti medo da liberdade

No dia em que despertei
Seu rosto se desfez
Diante de meus olhos

Virou papier machê
De um teatro de fantoches
Dos contos de fadas
Injetados por minha vó em meu cérebro

No dia em que despertei
Percebi que só tinha sobrado
O que sempre tinha sido:
Uma quantidade enorme de “amor pra dar”
Transbordando em meu peito
Desde sempre e sempre mais.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Veja, não pense que a vitória está perdida, tenha fé em Deus tenha fé na vida.
Tente outra vez. (Raul Seixas)

Deleuzianidades Espinosísticas...

No encontro entre dois corpos, duas idéias ou duas almas, pode tanto acontecer uma composição, onde se sente alegria ou uma decomposição, uma ameaça à coerência de um dos dois, provocando tristeza. Pode ocorrer também, que dependendo da maneira e das condições em que se conhece e se tem consciência das coisas, pode-se condenar a ter apenas idéias inadequadas, confusas e mutiladas.
DELEUZE, Gilles. Espinosa: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002, p.25
Todas as mágoas são suportáveis quando fazemos dela uma história ou quando contamos uma história a seu respeito. (Isak Dinesen)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sensações homosséxis

Alamanda

Queira poder me deitar
Em pedra branca refletindo o sol
À beira de um mar azul intenso
De ilhas mediterrâneas

O corpo nú, úmido do banho fresco
Sentiria o contraste da brisa fria
Na pelve ventre e seios
Contra o quase queimar
Da quentura da pedra
Nos ombros costas e nádegas

Inebriada pelo silêncio do não pensar
Adormeceria levemente
Ouvindo ao longe
O farfalhar dos arbustos
E o incessante ruído do mar calmo.

Da água, da terra e do ar
Surgiriam etéreas ninfas e sereias
Entoando mantras entorpecedores

Elas se aproximariam vagarosamente
E assim, com sensual delicadeza
Me envolveriam com mãos, seios e lábios

Até que, embriagada pelo turbilhão
De oxigênio ondas suspiros sensações
A chama do prazer se reacendesse em meu ventre
E eu descobrisse o que é gozar sem homem.

Sexta-feira da paixão, 2005, delirando em jejum

sábado, 16 de agosto de 2008

ADVERTÊNCIA

(Régis de Moraes, 2003:14)

Porque nunca calculei
o peso de minha lágrima
ou a força do meu riso,
descobri que viver
é a coisa mais desmedida.

Admiro os comedidos. Invejo-os
por ser a minha vida
um improviso de desproporções.
Porque nunca entendi
melancolias feitas de concisão,
insisto em ter na poesia
a pátria dos girassóis impossíveis
de Van Gogh.

domingo, 10 de agosto de 2008

A mente que (ainda)mente

dri dezotti


a tarde arde
e
minha mente
mente
e não sente
a corrente
sofrente
que es-corre
da lente
doente
deste tempo
presente
deste mundo
demente
e
decadente

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Agora eu sei...

dri dezotti

Tudo era uma questão de intensidades
de intensitudes
in- tensivo
tesão
tesivo
atutides
atitudes

tudo era questão
de manter a boa distância
que não dista
nem elimina
e tampouco
provoca ânsias

Só ondas
refluxos
calafrios

feito mar e brisa
feito bossa nova e samba canção

pois é isso que somos.

ou não?

sábado, 2 de agosto de 2008

Dentro de mim, fora do mundo...

Dri dezotti

Dentro do mundo e fora de mim
Dentro do fora me perco, e agora?
Fora do dentro, não sou nada, arrebento...

Dentro de ti, paz momentânea
Fora de hora bolo e champanha

Dentro de mim, paz infinita
Fora de ti, minha garganta grita

Grito de dor
Liberdade
Ou horror!

Êxtase de mim
Gozo sem fim

Saber serenar
Sem ter que rezar
É coisa de ateu
Que nem tu, que nem eu.

Souzas, 01/08/08

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Cativa

Dri Dezotti
Meu homem me chama e eu vou
Me procura e eu dou
Me olha e eu sou
Me molha com seu olhar
Me faz fruta com seu beijar
Me derrete com seu tocar
Me embala ao me abraçar

Meu homem não é desse mundo
Penetrando me toca tão fundo
Que já nem sei se por ele eu gozo
Ou se por ele sou gozada

Me desfazendo em suspiros e pernas
De manhã, de tarde, de madrugada

E assim, sem drogas, me sinto drogada
E em seu umbigo, sigo ancorada.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Deus é devagar

Adriana Dezotti Fernandes

Sua pele, ele a lambia vagarosamente
Primeiro as costas,
Começando pelos ombros
Descendo pela coluna vertebral
Sua língua qual serpente em guarda
Deslizando, espalhando saliva
Temperada de laranja e cravo-da-índia

As mãos, obedientes
abertas e obcenas
acompanhavam o movimento da língua
descendo a partir das axilas
até a curva da cintura
das nádegas
separando-as, atrevidas
enquanto o rastro de saliva se encontrava
com a chuva agridoce viscosa
nascida dos tremores do ventre
se espalhando pela fruta de mil lábios
que, sutilmente se abrindo num afastamento de pernas
se deixava saborear ondulando
em gemidos de prazer.

Lentamente, com doçura e firmeza
virava seu corpo frágil no leito
deixando desprotegido
seu ventre tremulante
os ossos arfantes de suas costelas
e os bicos rígidos de seus seios redondos
e, enquanto uma das mãos explorava o fruto maduro
a outra acompanhava os lábios que sorviam cada centímetro da pele
a língua em movimentos circulares
penetrando delicadamente o umbigo
seguindo os contornos das mamas
e chupando com sofreguidão
o bico agora entumecido
de seu seio direito.

Pescoço boca maçã do rosto
Olhos testa cabeça
Agora as mãos tocavam-lhe os cabelos
Segurando-lhes pelas têmporas
Boca encontrando boca
Enquanto seu pênis paciente
Penetrando vagarosamente
Inundandava-a de calores e cores.

Depois disso tudo era uma só dança
Corpos mãos bocas e olhos
O gozo inevitável abençoava a ambos
E então, perdidos nos campos floridos
E perfumosos do éden
Eles se perguntavam
Se por acaso
Aquilo seria Amor.

sábado, 26 de julho de 2008

Natureza natural naturalis

Dri Dezotti

(O verde dos campos era claro, um verde limão que ardia nos olhos. Só as florzinhas brancas espalhadas feito micro flocos de neve, aliviavam a vista, principalmente se o olhar deslizasse para o céu azul cheio de pontos prateados feito luz sem realmente ser, feito pó de pirlimpimpim bailando em movimentos quase circulares.)

Meu corpo nú
Sobre a seda colorida
Colocada na relva macia
Coberta de florzinhas brancas e amarelas

Meu corpo inocente
Sentindo a brisa perfumada
E o calor dourado
Do sol chegando devagar

Meu corpo sereno
Pelos pubianos tremulando
O vento da brisa perfumada
O corpo ficando dourado
Na luz do sol da manhã

Os bicos de meus seios
Rígidos e eretos
Sentem pousar borboletas
Azuis e negras

O ventre, se faz tocar por libélulas
Enquanto em meus lábios úmidos pela saliva
Abelhas inofensivas buscam o mel

Um casal de louva-deus copula na curva de minha coxa
A joaninha sobe pela mão direita
Enquanto borboletas amarelas
Formam um diadema entre a testa
E a raiz de meus cabelos

Um filhote de gato-do-mato
Se aconchega entre meu pescoço e o ombro
Pássaros cantam em uníssono ao redor
Uma serpente carente se enrola em meus calcanhares

Deus me beija na face
E eu já não sou mais eu
Sou só natureza natural naturalis.

Sexta-feira santa, santo jejum

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Pablo Neruda

A poesia é sempre um ato de paz. O poeta nasce da paz como o pão nasce da farinha.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Ecologia do Virtual

Félix Guattari

"É nas trincheiras da arte
que se encontram os núcleos de
resistência dos mais consequentes
ao rolo compressor da subjetividade
capitalística na:
da unidimensionalidade
do equivaler generalizado
da segregação
da surdez para a verdadeira alteridade."

(...)

"A arte aqui não é somente a existência de artistas patenteados
mas também
de toda uma criatividade subjetiva
que atravessa
os povos
as gerações oprimidas
os guetos
as minorias..."

PARA CHORAR DE RIR...

http://www.youtube.com/watch?v=8A95SLP_ISU&feature=related

sábado, 19 de julho de 2008

Ventilador

dri dezotti

A alma acalma
quando o vento
passa e mostra
que tudo é ilusão
A alma salta
Quando a brisa chega
e traz música e aromas
pro meu coração.
Como um ventilador
eletricizo com vento, a dor.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

1969 - Bebendo da fonte de Walter Benjamin...

Adriana Dezotti Fernandes


Deitada de bruços no chão de ladrilhos amandalados,
sentindo o aroma suave/forte da dama-da-noite que invadia as narinas
enquanto o frescor do ladrilho aliviava o calor quente
de meu corpo de 6 anos daquela noite de verão...

1969, a terra vista do alto
Minha mãe, grávida em seus saltos
e eu que sonhava com naves e luzes coloridas
vindas do céu sobre meu quintal...

a parede de lambril
o vaso de porcelana que “conseguimos” quebrar
a rua enfeitada no Corpus Christi
de novo a parede de lambril
o relógio carrilhão
e seus ponteiros que desaceleravam a hora de ir ao circo
(...hora que não chegava nunca)
A mesma parede sobre a qual se apoiava a árvore de natal
Que no dia 25 amanheceria transbordando
A generosidade das tias
Família Fernandes, Rua Tiradentes...
...foi lá que aprendi a ser gente...

...Valter, beija a mim!

(reflexos da leitura de Infância em Berlin)


Souzas 07/08/06

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Carrossel

dri dezotti 2006

Quando o pensamento resolve tomar
as rédeas da doce rotina, surge
um desejo de tudo e nada
uma sede de estrada
uma respiração afobada
e viro a maior chata que já conheci
ignoro loucos e bons momentos que vivi

E fico lá rodando no carrossel
das imagens que se repetem,
que atordoam
e não levam a lugar nenhum.

AMAR!

Florbela Espanca

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui...além...
Mais este e aquele, o outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se poder amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar.

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Memórias do sanduíche

(poema sobre a cidade de Bauru por Leandro Fontana)
Enxame vazio
mato alto,
percevejo no limite que se vê
dá dois real aí
vê se tem no seu bolso
do lado de fora
sem camisa
sem casa
sem cara
aqui é lá,
pisa no chão
a mesma história
a mesma terra

Deságua água
pergunta é resposta,
mas pra que tanto parque?
pra colocar no pão
com rosbife, queijo e tomate

roda rotunda
em qual galpão vai parar?
descarrilha,trem de bauru.

Precisa-se de um homem...

Que encare a vida de frente e sem querer ser super-herói
Voe com serenidade nas asas de seu destino.
Precisa-se deste homem especial e comum
Que nunca simule afeição, nem trapaceie com meus sentimentos
Que saiba conduzir-me com doçura
Que saiba orientar-se com inteligência
Mas que aceite com humildade os desígnios de meu ser
Ele deve ser alto
- da altura de sua dignidade
E belo
- como a beleza de seu caráter
Sua ambição deverá ter a medida exata
Do alcance de seus dedos – e de seus sonhos
Precisa-se urgentemente desse deus-menino
Pra por festa no meu coração
Atear fogo no meu corpo
E salvar do aniquilamento
Resgatando nossas vidas
Com tributo de amor-total.

(Autora desconhecida, Campinas, Bar Mamão, 20/01/87)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

itamambuca

a vida me molha os pés
feito água de mar em maré cheia

o ar me invade o peito
colorindo de invisível oxigênio
meus derradeiros suspiros de dor

a mente acalma o turbilhão
com a imagem sempre presente
de parque de diversões
no final do domingo

e meu corpo dolorido
queimado
carbonizado
pelo fogo da paixão

se refaz

e renasce das cinzas
feito Fênix
como sempre tem sido

Amém.

Você saiu de mim...

Você saiu de mim

Não como um feto
Natimorto

Uma espinha
ou um cravo

Não como um catarro
Escarrado

E tampouco como
Fezes libertas da constipação

Você saiu de mim
Como uma casca velha
de árvore milenar

Um casaco
Mofado, quente, apertado
No verão a sufocar

Uma pele morta
Que revela agora
O que cobria:

Minha nudez terna e macia

Ubatuba 21/06/08

domingo, 13 de julho de 2008

a amizade e o cosmo

Você se atira no cosmo
E a rede de amigos te segura

Você mergulha pra baixo
E a rede
Infinita
Fechada
E segura de amigos
Te acolhe

Você relaxa o corpo
E a rede de amigos te segura,
Docemente,
Como um colo cósmico

Dri Dezotti
Araras, 20 de maio de 2008

infinita tristeza junina

uma tristeza infinita
se aponderou de todo meu corpo
células
órgãos
fios de cabelos

fui atravessada por
uma infinita tristeza

assim como o deserto
seria atravessado
por um número extraordinário
de caravanas nômades

um enorme acampamento
triste
e angustiado
povoa hoje
meu coração
que tinha por hábito
a alegria

minha casa

que casa gostosa
com cheiro de lenha!
que lenha gostosa
com cheiro de casa!
que casa de lenha
cheirosa e gostosa!

instante

a luz do abajur
iluminava
seu corpo nu
em meu peito ressoava
a zabumba do coração
sua mão na minha
falava de vôos
de lilazes
de brisas...
o gozo tinha me transportado
para dentro de você

tatoo - ada

me faço furar
com mil agulhas multicores
só pra te mostrar
que não tenho medo de dores
que aguento com coragem
toda sorte de dissabores
só não sobrevivo
se me troques por outros amores
aí eu padeço
na câmera dos horrores
e espero a morte
clamando por matadores